domingo, 1 de novembro de 2009



Na escritura deste memorial sobre minha história com a leitura, volto e revivo momentos de encantamento, imaginação e, sobretudo, imagens guardadas e despertadas. Estavam presentes, palavras ditas, escritas, que, estarão aqui, fazendo (e fizeram) parte desses episódios relevantes em minhas recordações nos tempos de escola, no jardim-de-infância, alfabetização, 1ª a 4ª séries, ensino fundamental, ensino médio e superior, e vendo, em partes, posturas diversas de alguns profissionais da educação.
Meus pais foram responsáveis pela continuação dos estudos, por contribuir e incentivar minha trajetória estudantil. Que, os dois, por não terem concluído seus estudos, sabiam que a educação e a sua valorização prevaleciam, haja vista, estavam presentes em seus discursos.
Recordo-me no início deste processo: cantigas, brincadeiras e habilidades artísticas no período de jardim-de-infância. Se não me engano, o nome era Eleneuza, minha primeira professora na Escola Domingos Sávio, em Ouricuri-Pe. Em seguida, estudei na Escola Telésforo Siqueira, por volta de cinco anos, na época, era alfabetização, e 1ª a 4ª séries. A professora que nos acompanhou desde a 1ª série foi “Dona Luiza”, sempre dedicada, carinhosa, se empenhou para desenvolver nossas habilidades fundamentais para a inserção no mundo da escrita.. Lembro que nesse período, eu era muito tímida, mas “afoita” para as apresentações culturais. Todos os anos eu participava dos desfiles cívicos, que eram muito esperados, em cima dos carros alegóricos “Alice no País das Maravilhas”, dentre tantos outros. Lembro-me que ganhei de minha mãe, uma coleção completa dos livros clássicos: “Chapeuzinho Vermelho”, “Branca de Neve e os Sete Anões”... E ficava horas compenetrada, ouvindo e imaginando as cenas retratadas, complementadas pela ilustração dos livros. Até a minha avó materna – Mercês Coelho-, colaborava e incentiva os estudos, ganhei dela uma cartilha – literatura usada no modelo de alfabetização mecânica da época - ou livro de alfabetização, com atividades como: O coelho vê a pipa. Cacá vê a pipa. Sempre estive rodeada pela leitura, adorava comprar revistas em quadrinhos da Mônica, Cebolinha e Cascão, que por sinal, nunca esqueci o castigo que recebi da professora Luiza, ao ver que estava levando para a sala de aula. O que estava acontecendo naquele momento? Era certo?! Não sei. Só sei que adorava lê-los.
Quando cheguei ao Ensino Fundamental II, na Escola Estadual Fernando Bezerra Coelho, precisamente de 5ª a 8ª séries, senti aquele impacto: tinha vários professores nos ensinando. Como eu senti falta da professora Luiza! Mas, aos poucos, fui me adaptando. Nessa época, colecionava papéis de carta, ilustrados, com poesias diversas, “era a temporada das Pastas de Papel de Carta”, ficávamos trocando com as colegas e enviávamos carta aos conhecidos. Depois, foi à vez dos diários, todos queriam colocar suas preferências nele. Este continha várias perguntas, deixávamos mensagens, preferências de livros, músicas... Foi através deste meio, que por curiosidade li o livro “Poliana Moça” – pois tinha dado como melhor livro de algumas pessoas. Foi uma época bastante enriquecedora pra mim, vivi momentos prazerosos com meus colegas e, compartilhei muitos saberes. Sem esquecer, os registros diários de minha vida, colocando neste, desabafos, segredos de adolescente, que por sinal, eram guardados a sete chaves, para que ninguém pudesse encontrá-los. Algo que recordei neste momento, foi ter lido um livro, não lembro exatamente o nome, mas que nele continha como uma pessoa devia se portar diante dos outros, creio que era pra me ajudar a desinibir, a me soltar mais. Uma frase que nunca esqueci, foi a de que “um bom conversador é aquele que sabe ouvir, e espera a vez de falar”. Carreguei esta, até hoje, internalizada em minha memória. Dentre os divertimentos, montei uma sala de aula no muro da minha casa, e eu, é claro, era a professora. E olha que não faltava nada neste cenário: mesa pequena lembro-me que era azul, de madeira com quatro cadeiras, quadro, giz e apagador, e as colegas, ou alunas, traziam seu material escolar: caderno, lápis, borracha, lapiseira, e tinha até o lanche, que pegava no armazém de meu pai: chiclete, chocolate, bombons, essas guloseimas que todos adoram. Desde pequena, dizia que ia ser professora, ou mesmo, já estava sendo a partir desse período, nas brincadeiras.
Sempre fui muito curiosa, gostava de estar “ligada” em tudo que acontecia. Minhas irmãs gostavam de ler revistas de romance, “Júlia, Sabrina”, todas colecionavam essas revistas. E eu, também guardava um tempinho para vislumbrar nas entrelinhas desta revista amores perfeitos, romances platônicos...
Uma aula que ficou gravada em minha memória, foi durante a 7ª série, na aula de inglês, em que a professora Doralice levou uma música, onde todos cantaram e apreciaram: “Sunshine oh my shoulder – de John Denver - .
Enfim, chegando o Ensino Médio, a turma se dissipou (era a mesma desde a 1ª série) e alguns se matricularam na Escola Normal São Sebastião (Magistério) por três anos.
Depois de tanta insistência, consegui ir morar em Petrolina-PE, fazer um curso Pré-Vestibular. Senti dificuldades, pois algumas disciplinas não foram trabalhadas no magistério. Exatamente no ano de 1999, passei no vestibular de Letras – FFPP – UPE. A professora destaque na universidade foi Clara. Tinha um jeito de ser, encantadora, autêntica e convincente nas suas aulas. A disciplina era Teoria da Literatura, contava com tanta eficiência as histórias clássicas que, contagiava a todos, inclusive a mim, que era sua fã de carteirinha, pois construí acesso ao mundo da leitura e da escrita. Adorava suas aulas, eram dinâmicas, prazerosas e acima de tudo, despertou o prazer que tem a leitura. Ela gostava muito de ler os livros de Machado de Assis, e isso, contagiou-me até devorar algumas leituras: “O Alienista”, “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, “Dom Casmurro”; e também obra de Graciliano Ramos – São Bernardo; Senhora e O Guarani de José de Alencar, dentre outros. Como também, livro de Jorge Amado, com uma linguagem simples, soube descrever a vida cotidiana das pessoas: Capitães de Areia, Dona Flor e Seus Dois Maridos...
Nunca achei nenhuma matéria inútil, mas algumas delas se tornaram mais significativas e apreciadas.
Entretanto, esse embarque no mundo letrado faz parte desde muito pequena, onde apreciávamos os lugares, cartazes em nossa volta, objetos, tudo refletindo nosso convívio no meio social e cultural.

“Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia das nossas palavras. O professor, assim, não morre jamais...”

Betânia (formadora - Santa Cruz - PE)
www.procurandoacertar.blogspot.com

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